Para mim o Clube 24 é um quilombo! Foi isso que D. Cibele, filha de um dos fundadores do clube, disse ao ser perguntada sobre o que representava essa instituição para ela. Continuando com sua exposição, logo em seguida voltou a dizer: “para onde os negros iam quando fugiam da escravidão? Era para um quilombo, pois é isso que o 24 é!”
Voltando para casa, pensando no me que dissera D. Cibele, e ainda sem saber que significado tinha aquilo dentro de um contexto atual, lembrei do que passara seu pai e tantos outros negros que, por não terem opção de divertimento, fundaram aquele espaço.
O sentido de quilombo que sabiamente D. Cibele passou diz respeito à repressão sofrida pela comunidade negra, não somente em Jaguarão, mas em todo Brasil, antes e depois da escravidão. Com a escravidão o sofrimento pelos maus tratos e pela longa jornada de trabalho e pela “coisificação” do negro como instrumento de trabalho.
Depois da escravidão, já libertos, sofreram com o processo de integração na nova sociedade capitalista, industrial e de classes, baseada nos ideais positivistas de ordem e progresso, moralista e vigilante. Na virada de um século para outro (do XIX para o XX), foi necessário forjar sua etnicidade para que fossem moralmente aceitos nessa nova ordem social.
Neste sentido, os negros que fundaram o Clube Social 24 de Agosto, se uniram em classe – União da Classe – dentro do Círculo Operário Jaguarense e como operários (o termo operário guarda o pertencimento étnico da comunidade à época da fundação do Clube, 1918) fundaram um novo quilombo dentro da cidade!
Portanto, ao ouvir aquelas palavras, que fizeram minha pele arrepiar, entendi que o Clube 24 de Agosto, para aqueles que o fundaram e para a comunidade atual, é mais que um espaço de divertimento para os negros jaguarenses, é um espaço de expressão e liberdade!
Acadêmica do Curso de História da UFPel.
Créditos da Imagem: Baile Gaúcho no Clube 24 de Agosto. Acervo particular
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